quinta-feira, 5 de março de 2009

(7)- STRES, O "PESO" INSUPORTÁVEL DOS OPOSTOS



A Neuroendocrinologia do stress surgiu quando Hans Selye, em 1936, observando animais e homens, constatou que quando submetidos a fatores extenuantes ou que avaliavam arriscados, apresentavam respostas psicológicas e físicas, não só analisadas pelo SNA simpático, mas também por substâncias produzidas no seu cérebro (especificamente na glândula hipófise) que se refletiam em outras glândulas, com ênfase nas supra-renais, forçando-as a liberarem adrenalina e noradrenalina.
Foi assim que o vienense Hans Selye, após emigrar para o Canadá e freqüentar a Universidade de Montreal, começou a desenvolver os estudos que o tornaram conhecido internacionalmente como o criador da teoria do Estresse.
Em verdade, este conceito começara a desenvolvé-lo em 1920, quando, como estudante em Praga, passou a analisar psicologicamente os enfermos. Constou, então, que os afetados por pneumonia se comportavam diferentemente dos tuberculosos, e ambos, desigualmente daqueles que eram portadores de problemas cardíacos, úlceras, câncer e outras enfermidades graves.
Em 1926, ainda como aluno, persistindo em suas análises, se deu conta que os doentes que examinava eram portadores de quadros semelhantes, ou seja, fraqueza muscular, cansaço, apatia, perda de peso e expressões faciais análogas. Chamou este quadro “síndrome geral do doente”.
Naquela época, passou a estudar e catalogar os aspectos que eram comuns aos enfermos que atendia, ao invés de se limitar a focar as diferenças patológicas que apresentavam. Com isso, começou a identificar em cada um deles os efeitos gerados pelas “tensões” que padeciam e de que forma estas estavam contribuíndo para o agravamento das respectivas enfermidades.
Suas pesquisas haviam sido influenciadas também pelos trabalhos de um fisiologista de Harvard, o Dr. Walter Bradford Cannon, o qual, no começo do século, conseguira estabelecer que o fenômeno chamado "briga ou luta" era a resposta do corpo humano quando se percebia em perigo. Mas, enquanto Cannon se ateve á pesquisa deste fenômeno, um sistema que, através do equilíbrio dinâmico, “protegia automaticamente o corpo humano”, Selye continuou dedicando-se a pesquisa que os danos causados pelo efeito “das tensões” (desde que continuadas), provocam no corpo psicossomatico.
Foi Selye, também, que ao adotar o termo “tensão” para descrever a reação do corpo humano diante dos “pesos” que racionalmente não estava capacitado a suportar (stress na língua inglesa, utilizado na engenharia para se referir ao cansaço de uma estrutura quando forçada a suportar um peso maior daquele para o qual havia sido projetada), acabou divulgando-o internacionalmente, mesmo se antes dele Walter Bradford Cannon já o havia utilizado.
As experiências com ratos, em 1936, mostraram que inúmeros estressores, tais como infecções, traumas, hemorragias, temores, e até injeção de substâncias nocivas, produziam o mesmo efeito, pois quando estes animais eram examinados, apresentavam glândulas supra-renais hiperplásicas, isto é, tecido imune atrofiado (timo e nódulos linfáticos) e úlceras gastrintestinais. Ele, que anteriormente chamara o quadro clínico comum aos enfermos de “síndrome geral do doente”, após constatar que um grande número de estressores produzia as mesmas respostas, mudou seu nome para “Síndrome de Adaptação Geral” ou G.A.S. em Inglês.
Selye desenvolvera sua teoria baseado na convicção de que a soleira que permite o acesso das enfermidades ao corpo humano, abria-se quando os hormônios que este mesmo corpo produzia para reagir as tensões, se esgotavam.
Robert Bradford Sapolsky, porém, em seu livro “Porquê Zebras Não Adquirem Úlceras”, publicado em 1994, demonstrou o contrário, porque as evidências indicam que estes hormônios não somente não se esgotam depois de prolongadas exposições aos estressores, mas são eles que, continuando a serem gerados pelas próprias tensões, produzem enfermidades no corpo.
Deduz-se, a partir desta constatação, que “quem projetou o corpo humano”, o dotou de um sistema que o protege, porque diante das “tensões” que o agridem, segrega automaticamente hormônios que o fortalecem, mesmo se este fortalecimento se restringe à primeira fase do stress, porque quando as tensões não são “vencidas”, em curto espaço de tempo os hormônios que continuam sendo segregados (atingindo quantitativos não mais passíveis de serem eliminados pelo organismo), levados pela corrente sanguínea aportam em campos celulares fazendo-lhes perder suas características operacionais específicas. Resultado: somatizam (adoecem). Quer dizer: o sistema protege, porque quando um sujeito é agredido por um evento estressor é fortalecido para que possa superá-lo, mas paga um preço que pode ser muito alto quando não “assume” que tem a obrigação de fazer a sua parte, ou seja, perdoar quando magoado ou não utilizar a inteligência de que é dotado para se sobrepujar ás “ocorrencias” que naquele momento, atemorizando-o, o estressam.
Hans Selye, depois de 1936, começou a publicar suas pesquisas observando que a exposição a fatores de risco, isto é, extenuantes ou indesejáveis, trazia respostas muito bem caracterizadas: taquicardia, aumento das pupilas, suores, irritação e muitas outras, que ele denominara “Sindrome Geral de Adaptação”, passando posteriormente a utilizar a palavra stress que em inglês significa “pressão, tensão ou insistência”. Segundo sua tese, então, a pessoa estressada é aquela que está sob pressão, tensão ou ação de estímulos insistentes. Em outras palavras, sob fatores estressores.
Mas o que significa a palavra Stress? No Oxford English Dictionary tem estes significados: Força ou pressão exercida sobre um objeto. Força ou pressão exercida sobre uma pessoa com a finalidade de compelir ou extorquir. Exercício extenuante ou grande esforço. Sofrimento, adversidade ou aflição. Insistência excepcional, ênfase. Solicitação excessiva de um órgão corporal ou da mente.
Stress, então, segundo Selye, passou a ser a resposta fisiológica, psicológica e comportamental de um indivíduo que procura se adaptar ou se ajustar às solicitações internas ou externas. Essas solicitações, capazes de levar ao stress, são chamadas “Fatores Estressantes” ou “Agentes Estressores”.
Deste modo, o “Fator Estressor” pode ser uma ocorrência, uma situação, uma pessoa ou um objeto capaz de provocar em um indivíduo uma tensão emocional capaz de induzí-lo á reação de stress.
Mas, quais são os fatores que estressam? Muitos, mas podem variar quanto à sua natureza abrangendo desde componentes emocionais, como, por exemplo, a cólera, frustração, ansiedade ou perda, até componentes de origem ambiental biológica e física, como é o caso do ruído excessivo, da poluição, variações extremas de temperatura, problemas de nutrição, sobrecarga de trabalho, etc.
No ser humano esses estímulos costumam ter duas fontes, ou seja, interna e externa. Os estímulos internos tem origem nos conflitos pessoais que, em última instância, refletem sempre a matiz afetiva de cada individualidade, enquanto que os estímulos externos são representados pelas ameaças do cotidiano.
Entretanto, as pessoas jamais tem a mesma “compreensão do mundo”, porque é filtrada pelos conceitos que cada indivídualidade amadureceu em si mesma. Essa percepção pessoal da realidade, que difere de pessoa para pessoa, é chamada procepção da realidade.
Não devemos esquecer, desse modo, que mesmo quando o “real é obvio”, continuará sendo decifrado de acordo com as percepções que cada pessoa desenvolveu, especialmente no que tange a afetividade. Conseqüentemente, devido a estes aspectos, não se pode afirmar que esse ou aquele “evento” é mais estressor do que o outro, porque enquanto uma determinada ocorrência é acentuadamente estressora para alguns, para outros não o é.
Estamos vendo, então, que a percepção pessoal da realidade difere de sujeito para sujeito, uma vez que a interpretação de todo e qualquer “episódios” depende dos fatores que se forjaram em cada individualidade a partir do berço, do meio-ambiente em que viveu, da classe social que freqüentou, do nível de estudos que concluíu e das esperiências pessoais que viveu. Integra não apenas a concepção que se tem das coisas externas, mas também das internas, com ênfase na imagem que cada um tem de si mesmo, influenciada que é pelos seus sentimentos e auto-estima.
A auto-estima, por exemplo, pode ser negativa ou positiva, vez que depende da dosagem de “amor próprio” que cada um tem de si, porque enquanto algumas pessoas se consideram ótimas e são felizes, mesmo tendo o nariz ou orelhas proeminente, outras, por se perceberem péssimas, mesmo se os que se relacionam com elas discordam em número, gênero e grau, são infelizes. Desse modo, a idéia que cada um tem de si pode ser um estímulo agressivo - estressor, portanto - e como tal causar ansiedade e perturbação constante.
É devido a este tipo de “estímulo negativo interno” que a ansiedade de algumas pessoas, por ser imutável, se torna patológica. Enquanto que as ameaças externas, ao contrário, por serem episódicas: perda de emprego, separação, doença, morte de ente querido etc., em tese, deveriam ser mais facilmente superáveis.
Por outro lado, há situações em que o indivíduo deveria se sentir seguro - em termos racionais, claro, no entanto, se o estímulo interno tiver origens emocionais, pode deixá-lo apreensivo, isto é, com temor de ser assaltado, sequestrado ou agredido, embora essa probabilidade na prática seja ínfima. Igualmente, alguns pensam que uma enfermidade, só por ser uma enfermidade, é uma seria ameaça (um poderoso estímulo ameaçador, portanto), enquanto outros na mesma situação nem se preocupam em procurar um médico. Esse estímulo é interno, não externo. Seria externo se houvesse, de fato, sinais de que a saúde está efetivamente abalada. Enquanto houver apenas o receio de ficar doente, permanece sendo uma ameaça interna.
Se alguém, assim sendo, devido ao pessimismo pessoal, sente-se ininterruptamente ameaçado tanto por fatores internos como externos, e ao deitar, prossegue sujeitando-se a estas ameaças, continuando a submeter-se a elas nos dias seguintes, inevitavelmente em pouquíssimo tempo se esgota.
De modo geral, no ser humano, é a afetividade que modula sua percepção do mundo (procepção), e é através dela que interpreta se determinados estímulos são ou não agressivos mesmo sendo de origem externa, portanto materiais. A agressividade destes, entretanto, poderá ou não ser mais ou menos traumatica, dependendo da conotação que lhe é atribuída por cada um.
Destarte, os estímulos ambientais podem se tornar estressores não apenas em função da sua natureza objetiva, mas, sobretudo, de acordo com a avaliação subjetiva que cada um faz deles.
O mesmo pode ser dito em relação aos estímulos internos, em outras palavras, aos conflitos, frustrações, medos, sentimentos de perda, etc. Porque dependendo dos sentimentos e emoções de cada indivíduo, podem redundar em ameaças maiores, menores, ou até em ocorrências naturais.
A existência de conflitos pode ser considerada fisiológica na espécie humana, porque sempre entremeiam a vida das pessoas. Contudo, considerando que o ser humano, diferentemente de seu ancestral, é racional, usufruindo a inteligência que lhe é inata (se esta não tiver sido atrofiada pelo excesso de proteção dos pais ao longo da infância e adolescência [falta de cobrança em relação as responsabilidades, amenizar desafios, satisfazer continuamente seus desejos etc.]), terá como, em qualquer situação, dominando racionalmente a si mesmo, não se tornar uma vítima das tensões. Mesmo porque, diante delas, o sistema que o protege (Homeostase), passa a segregar automaticamente os hormônios que, fortalecendo-o, lhe oferecem o alento para vencê-las.
E assim que, diante de um ou mais estímulos estressores (uma nova paixão; primeiro beijo; emprego muito desejado; competição acirrada; promoção; exames escolares; tempo insuficiente para as tarefas agendadas; trânsito caótico; situação financeira deficitária; perda de emprego; decréscimo súbito de posição social; ameaça a segurança ou integridade física ou emocional da própria pessoa ou de pessoa amada; vida afetiva em desequilíbrio; conflito prolongado; acidente; assalto; seqüestro; estupro; catástrofe natural; enfermidade grave, cirurgia inesperada etc.), o sujeito, sem sem o perceber, está inserido na primeira fase do stress descrita por Selye.
Nesta fase, as reações que o corpo humano apresenta, são: dilatação das pupilas; estímulo do coração (palpitação), a noradrenalina, produzida pelas glândulas supra-renais, acelera os batimentos cardíacos e, aumentando a pressão arterial, facilita a circulação do oxigênio através da corrente sanguínea; a respiração torna-se ofegante e os brônquios se dilatam para receberem uma maior quantidade de oxigênio; ampliação da condição de coagulação do sangue caso aja ferimentos; o fígado libera o açúcar armazenado para que este seja queimado fortalecendo os músculos; redistribuição da reserva sangüínea da pele e das vísceras para os músculos e cérebro; frieza nas mãos e pés; tensão nos músculos; inibição da segregação dos sucos gástricos dificultando a digestão; inibição dos movimentos peristálticos do percurso gastrintestinal e Inibição da produção de saliva que redunda na sensação de boca seca.
Entretanto, quando o homem, usufruindo de seus recursos racionais, logo se sobrepõe ao estímulo estressor, de imediato seu organismo retorna a condição de equilíbrio interior (Homeostase).
Inversamente, se permanece racionalmente inerte, os fatores que o estressam, por se conservarem ativos, em curto espaço de tempo segregam uma tal quantidade de hormônios que o organismo não mais consegue eliminar. Decorrência: levados pela corrente sanguínea, invadem campos celulares e os deterioram. O resultado, como veremos adiante, é aquele que Hans Selye descreve na segunda e terceira fase do stress.

Mas, o estresse tem cura? "Seja mais superficial em sua vida", ensina Robert M. Sapolsky. O acadêmico norte-americano fala em tom de blague e de maneira simples, mas explica: como não há cura para o estresse, embora trabalhe com algumas possibilidades de terapia genética para atenuar os efeitos nocivos deste no cérebro, o negócio é ser ou pensar mais simples. Em outras palavras, como uma zebra.
Como uma zebra? Sim, porque as zebras só se estressam quando, na savana, vêem diante de si um leão. Então, usando todas as forças que possuem, fogem. Só que, uma vez passado o perigo, cessa também o estresse. O problema do homem, explica Sapolsky, é que se estressa mesmo na ausência do “predador”. Esse é o conceito que exibe no seu livro mais conhecido publicado em 1994: "Why Zebras Don't Get Ulcers" (Por Que Zebras Não Têm Úlceras).
Sapolsky, cinquentão extremamente bem-humorado e de certa forma irônico, é um dos poucos ganhadores do Prêmio MacArthur, que consiste em dar US$ 500 mil a uma pessoa, independentemente da área do seu conhecimento, só por julgar que o trabalho que desenvolveu justifica o investimento.
O trabalho de Sapolsky, coincidentemente, foi uma pesquisa que o levou a seguir por dez anos, na África, um grupo de babuínos. Seu interesse era conhecer a relação entre o excesso de stress e a morte dos neurônios de seus cérebros. O resumo dos conhecimentos que adquiriu redundou no seu livro "Memórias de um Primata", leitura aconselhada aos estressados bem como aos que se deleitam com relatos de memórias e descrições de viagens.
Mais de 20 anos depois, sua pesquisa ainda não é conclusiva, mas aponta para direções interessantes.
Sapolsky é professor de neurociências da Universidade Stanford, Califórnia, EUA, e assim se manifestou durante a entrevista que concedeu ao “Jornal Folha” que reproduzimos parcialmente.

Folha - Por que, afinal, as zebras não têm úlceras?
Sapolsky - Porque elas só se estressam no momento "certo", quero dizer, só quando há um perigo real e iminente -geralmente, um leão tentando devorá-las. No segundo anterior, e no seguinte à ameaça representada pelo leão, elas estão ou voltam ao seu estado normal. Os babuínos não são assim - nem nós, simplificando enormemente o trabalho de minha vida inteira.

Folha - Por que não?
Sapolsky - No nosso caso, porque somos inteligentes o suficiente para pensar nas situações estressantes, as antecipámos, as antecipámos em muito em relação ao momento em que elas realmente podem acontecer, se é que vão verdadeiramente acontecer. São antecipadas neuroticamente mesmo se elas podem não acontecer de verdade, tão somente porque houve uma experiência traumática anterior. O homem gosta de reviver e retornar a reviver ainda inúmeras vezes os sofrimentos mais marcantes...

Folha - Como isso nos afeta?
Sapolsky - Além do que já se sabe, pode, penso eu, "matar" neurônios importantes do nosso cérebro ao longo do tempo, neurônios particularmente sensíveis à ação prolongada dos hormônios produzidos pela glândula supra-renal, como a adrenalina, por exemplo. Pelo menos isso acontece com os babuínos.
Folha - E há "cura"? Ou pelo menos uma maneira de evitar ou atenuar essa situação?Sapolsky - No caso da morte dos neurônios, penso que existem maneiras de protegê-los, via terapias genéticas, uma vez identificadas às células do cérebro que vão sofrer com o excesso de estresse. No caso dos humanos, temos de ser mais superficiais.Por "mais superficiais" eu quero dizer menos cerebrais. Conseguimos isso, paradoxalmente, sendo mais cerebrais. Explico. Se você conseguir raciocinar científica e constantemente, conseguirá discernir se o que o está estressando é uma realidade, digamos física, ou apenas psicossocial. Se for física, estresse-se à vontade. Mas se for psicossocial, esqueça. Porque é simples e muito possível fazê-lo.
Folha – O Sr. pode explicar?
Sapolsky - Hoje em dia é quase universalmente aceito que o stress tem um papel importante no enrijecimento de nossas artérias e no aumento da nossa pressão sangüínea. Na época em que iniciei minha pesquisa, entretanto, havia apenas uma percepção de que estes dois acontecimentos podiam ter uma relação. Havia os militantes radicais que afirmavam que o stress provoca essas doenças e ponto final. Hoje, concluímos que essa relação causa-efeito pode acontecer, mas não obrigatoriamente. É mais provável que o stress aumente acentuadamente o impacto de outros fatores de risco e piore os casos já estabelecidos. Já os céticos achavam que:
1) O estresse não tinha nada a ver com isso.
2) Sim, tinha a ver, mas com um papel secundário.
3) Tinha a ver, mas exclusivamente nos indivíduos com predisposição ao stress.
Para estes, por exemplo, as pessoas estressadas comem mais carboidrato. A mudança de pensamento ocorreu devido ao acúmulo de provas científicas demonstrando como você parte do "stress" (esse grande, confuso e indefinido conceito) para a biologia celular e molecular da doença.

Folha - Uma vez identificada a biologia celular e molecular da doença, qual a sua conclusão?
Sapolsky - O aspecto psicossocial é o principal detonador do estresse. Ele tem mais a ver com a sociedade em que ocorre e com o papel do indivíduo nessa sociedade. Por exemplo: um homem na crise de meia idade não é mais estressado porque bebe mais álcool, fuma mais cigarros e come mais gordura?

Folha – O Sr. é estressado?
Sapolsky - Sou absurdamente estressado. Trabalho demais, durmo pouco, tenho filhos pequenos... Mas o que me impede de ser mais é que eu adoro meu trabalho, sou desesperadamente apaixonado pela minha família e me exercito com freqüência...
Depois desse relato, perguntamos: quem hoje, apesar dos inúmeros manuais de auto-ajuda, do esclarecimento proporcionado pelos psicoterapeutas, psiquiatras, médicos etc., sabe gerenciar adequadamente sua vida a ponto de, mesmo enfrentando o ritmo cada vez mais frenético, continuar gozando plena saúde? Poucos, mesmo se os tranqüilizantes e antidepressivos são os fármacos mais vendidos no mundo.
Enquanto isso, como acabamos de ver, a medicina reconhece que muitas enfermidades, incluindo as que colocam a vida em risco, são agravadas ou literalmente provocadas por aqueles estágios mais avançados do stress.
Sim, para aqueles que preferem enfrentar a realidade, quer dizer, que não se comportam como a avestruz, que para se afastar dela enfia sua pequena cabeça em um buraco no solo (por não ser racional não entende que de qualquer maneira permanece à mercê dos eventos), a literatura médica a respeito da correlação stress enfermidades é vastíssima. É dela que devemos extrair os conhecimentos para entender os mecanismos que causam o stress para combaté-los.
Infelizmente, teimosos, muitos continuam não assumindo as tensões que acumulam até aquele momento em que, por ser tardio, dificilmente é superado sem deixar seqüelas. Teimosos, porque mesmo quando seus corpos insistentemente enviam sinais, iludindo-se, julgam que podem se manter incólumes mesmo quando ao redor seus semelhantes naufragam. Para isso, recorrem aos fármacos com ou sem receita médica para se acalmar, dormir melhor, restaurar a libido, amenizar a dor de cabeça, facilitar a digestão, aliviar a queimação do estômago, mitigar dores articulares, combater suores, manter a pressão estável, evitar idéias negativas, ter medo do futuro e assim por diante.
A este respeito, para esclarecermos o grave mal da automedicação, evidenciando-o através de uma pesquisa médica, recorreremos á um trecho da reportagem que a revista Veja publicou no dia 15 se novembro de 2006.

Urticária, inchaço, falta de ar, náusea, dor abdominal. Esses são os sintomas mais comuns das crises graves de alergia – distúrbio que, no jargão medico, tem o nome de anafilaxia. Em alguns casos, esses ataques são tão violentos que podem levar à morte por asfixia ou por parada cardíaca. Estima-se que 250.00 brasileiros estejam sob o risco de sofrer uma reação alérgica intensa, o que representa cerca de 0,5% dos 55 milhões de vítimas de alergia no país. A maioria desses episódios potencialmente fatais revela uma pesquisa da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, é deflagrada por remédios de uso corriqueiro, sobretudo analgésicos, antiinflamatórios e antibióticos. O dado é especialmente preocupante num país como o Brasil, onde a automedicação é um hábito cultivado por 60% da população. No segundo lugar do ranking dos causadores de alergias graves estão os alimentos, seguidos pelas picadas de insetos.
A alergia tem um componente genético. Ela resulta de uma interpretação equivocada e exagerada do sistema imunológico diante de uma substância estranha ao organismo que normalmente não causaria nenhum mal – tanto pode ser um ácaro quanto um camarão frito. O sistema imunológico entra, então, em alerta e inicia o ataque contra o suposto inimigo. O processo é deflagrado em menos de um minuto e atinge seu ápice na primeira meia hora. “Identificar as causas de uma reação alérgica é fundamental porque, em geral, as crises tendem a se agravar nos contatos posteriores com o seu agente deflagrador”, diz o médico Luiz Antonio Bernd, um dos coordenadores do estudo. Por isso, não se deve negligenciar nenhuma reação alérgica, ainda que seja branda. Nos pronto-socorro de referência das grandes cidades brasileiras, três pessoas, em média, são atendidas diariamente vítimas de uma crise aguda de alergia.

Ninguém se da conta que ao invés disso bastaria buscar a causa dos transtornos e aprender lidar com ela, ao invés de continuar combatendo seus efeitos em vão. A maioria destes indivíduos, no entanto, quando percebe que uma mancha de umidade se alastra em uma das paredes de casa, não tentam resolver o problema com uma mão de tinta - porque sabem que em brevíssimo tempo a mancha voltaria a aparecer.
Sim, para evitar que o problema se reapresente ocorre procurar a causa e eliminá-la. É um conceito elementar, mas como nos mantemos cegos à realidade, porque permanentemente sucumbimos diante de nossas manias, acabamos nos distanciando das verdadeiras regras que determinam a qualidade de vida.
Cegos, porque sem nos cientificarmos disso, vivemos no cerne de um redemoinho que, devido à força centrifuga que gera, não nos permite sair. Sim, continuamos a afirmar para nos mesmos: depois que conseguir um emprego firme, depois das provas, depois que me formar, depois das férias, depois de obter um emprego melhor, logo que terminar de pagar o carro, o apartamento etc. Consequencia: por deixamos em segundo plano nossa saúde, corremos o risco de um dia, repentinamente, termos que ser internados em um hospital.

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