quarta-feira, 4 de março de 2009

(4)- MEDICINA PSICOSSOMÁTICA

É ainda habitual, em alguns ambientes científicos, acreditar que as enfermidades podem ser classificadas em duas categorias, isto é, por um lado as enfermidades chamadas “funcionais”, provocadas por distúrbios de uma ou mais funções que asseguram á saúde, como as respiratórias, cardiovasculares, digestivas, motoras etc., sem que aja traços de lesões nos órgãos envolvidos, e do outro as chamadas “orgânicas”, normalmente graves em suas manifestações e conseqüências, que afetam os pulmões, coração, fígado, estomago, rins e outros. Esta conceituação, entretanto, não somente é perigosa, mas falsa, porque o trabalho de um número cada vez mais expressivos de pesquisadores vem demonstrado que a alma (corpo mental), além de pré-existir, transmigra de um corpo para outro.
Mas ha outras pesquisas que, mesmo processadas no interior do espaço circunscrito pelo paradigma da medicina, demonstram que o homem é um ser psicossomático, visto que são corriqueiros os fenômenos psicológicos nos quais, mesmo uma ligeira emoção de alegria ou medo se repercute no organismo causando taquicardia, falta de ar, pequenos distúrbios orgânicos e, alterando o humor, provocam graus diferentes de irritabilidade. Sem esquecer que tensões maiores podem se responsabilizar pela eclosão de enfermidades que vão da ulcera gástrica a acidentes cardiovasculares após passar pela hipertensão,.
A medicina psicossomática é, então, o único meio de ver os enfermos na sua interinidade e, sobretudo, de permitir a compreensão do que neles está acontecendo. Contrapondo-se, desse modo, as teorias impostas pelo paradigma cartesiano que, impulsionando a física, a química e a biologia, cria a idéia de que o corpo, por ser meramente material, é explorável pela fisiologia e anatomia. Nesse conceito, pragmático por excelência, a doença e da dor por serem fenômenos físicos, merecem intervenção direta porque são passivei de correção.
Em verdade Descartes, filósofo, matemático e físico francês (1596-1650), através da sua física mecanicista e anímais-máquinas, impulsionou o desenvolvimento de um modelo biomédico positivista, isto é, que entende o corpo como um conjunto físico de sistemas relacionados e relativamente independentes.
Este modelo se baseia na pesquisa em fisiologia experimental, ou seja, na busca de padrões constituídos por lesões anatomo-fisiológicas para as doenças. O foco, então, passa a ser a anormalidade biológica, a taxionomia, os aspectos universais da patologia.
A clínica médica, assim, expõe o corpo que, para ser pesquisado, deve ser aberto para procurar as causas físicas dos males e dos sofrimentos que apresenta.
Neste viés a psiquiatria toma a loucura como uma desordem que também deve ser tratada como entidade nosológica (descrição das doenças), passando a buscar causas orgânicas a partir de uma descrição sintomatológica. Por este motivo a loucura é transformada em doença mental e, de tal modo, passível de controle médico.
Nesse modelo, ainda, entende-se a psicologia como ciência positiva, a qual toma a consciência como objeto de estudo, que deve ser investigada como fato registrável nos mesmos moldes das ciências fisiológicas. (fisiologia, ciência que trata das funções orgânicas)
Assim temos a reflexologia de Pavlov, a psicologia experimental de Wundt e o behaviorismo de Watson. Talvez até a psicanálise de Fred tenha seguido uma concepção mecanicista, porque tomou o inconsciente como objeto de investigação do analista, e entendeu as chamadas pulsões inconscientes como determinantes de sintomas somáticos, isto é, as chamadas doenças psicossomáticas.
Entretanto a questão da psicossomática é outra e, mesmo se a perspectiva fenomenológico-existencial de Martin Heidegger (2001) ainda peca aos olhos da medicina holística, está muito mais perto da verdade.
Para ele, o homem não está neste mundo como as demais coisas e por isso não pode ser investigado e explicado da mesma maneira que o são os objetos. O homem, por não entender porque está neste mundo, interroga-se constantemente, mas, mesmo assim, é ele que, do alto de seu pedestal porque se julga racional, ou do método científico que utiliza, quem decide o que é acertado ou não. É assim que, quando não alcança o sucesso desejado na ação que adotou, o malogro quase sempre se transforma em um trauma de consciência, não em uma ferida em órgãos físicos.
Para Heidegger, existe um abismo entre a metodologia quantitativa aplicada nas ciências físicas e a compreensão do homem. As ciências naturais não alcançam o “ser-homem” em sua totalidade, mas apenas como objeto, como mais algo presente na natureza. O método das ciências naturais não pode se aplicar ao humano por ser incompatível com a noção de singularidade.
Assim, na acepção heideggeriana, o homem é aquele ser que está presente no mundo de forma peculiar. Ele é aberto para sua própria experiência de existir, ele tem autoconsciência, ele temporaliza, tem noção de que vive, mas desconhece o que irá acontecer com ele, daí parte das suas angústias.
Assim podemos entender melhor que, existencialmente, o fenômeno humano, em sua totalidade, não pode ser apreendido estatisticamente. Mensurar o ser humano significa descaracterizá-lo.
Como diz o psiquiatra Medard Boss (1997), aluno de Heidegger, o fenômeno corpóreo das lágrimas de uma pessoa enlutada está intimamente ligado ao fenômeno do sentimento de perda e saudade, assim como o rubor da face está relacionado aos atos destrutivos de uma pessoa com raiva, o corpo contraído e os olhos arregalados se referem ao medo. Entretanto, as lágrimas de um enlutado podem ser avaliadas em seus aspectos químicos, não na sua intimidades, porque a este nível se diferem, ou seja, as que são causadas por tristeza não serão jamais iguais as que afloram da alegria, assim como o rubor da vergonha não é o mesmo que é provocado pela febre.
Conseqüentemente, do ponto de vista da fenomenologia existencial, a tentativa científica de mensuração de estados emocionais já transgride o sentido da própria emoção. Uma emoção só pode ser compreendida na abertura de seu instante.
Para Heidegger a questão não está em pensar o psíquico e o somático, nem tampouco as possibilidades de integração ou articulação destas duas dimensões, tal como o fez a psicossomática nos moldes psicanalíticos, a qual fala de representações psíquicas no corpo (somatizações).
Este filósofo, antes disso fala da necessidade de um modo próprio de aproximação do humano que possibilite vislumbrá-lo em sua complexidade e não como soma e psique. Segundo ele, o modelo cartesiano aplicado ao homem divide, separa e empobrece o homem em sua humanidade.
Entretanto, como afirma Boss, os fenômenos somáticos e psíquicos se diferenciam, não podem ser tomados como iguais, mas em sua diferenciação devem ser compreendidos quando remetidos a sua realidade comum. Assim, como só podemos perceber o verde e o vermelho em sua distinção e peculiaridade quando sabemos que ambos se referem ao fenômeno da cor, da mesma forma, só podemos compreender o psíquico e o somático referidos ao homem se entendermos que são dois modos diferentes pelos quais se dá o acontecimento da existência humana.
O homem, na visão de Heidegger, não pode ser definido como uma coisa ou outra, ou mesmo como um agrupamento de partes orgânicas ou psíquicas, mas em seu sentido maior de abertura ao mundo.
A natureza das ciências físicas e a previsibilidade para a posse e dominação dos processos naturais, como se pode constatar na parte final da obra de Descartes “Discurso do Método”, na qual afirma que devemos nos tornar mestres e donos da natureza, permanece e continuará permanecendo muito distante da capacidade da compreensão humana. Por isso, o tema da objetividade que é o traço fundamental do método mecanicista, para Heidegger não pode ser aplicado ao homem. Para ele a metodologia das ciências físicas tem um limite, e o não entendimento deste limite despenca no equivoco do cientificismo e dos discursos de poder sobre o homem.
Tanto para Martin Heidegger quanto para Medard Boss, é necessária uma ótica que permita compreender o homem em sua complexidade e inteireza. Não separando para depois agrupar, mas uma metodologia que desde o início contemple o ser-homem como efetivamente é a sua existência no mundo.
Como se desenvolve, então, a enfermidade psicossomática? A causa tem que ser imputada a conflitos profundos, como vimos até com raízes em vidas precedentes. A enfermidade, por conseqüência, é a somatização dos conflitos mal ou não resolvidos - quando conscientes, ou não entendidos porque, por terem acontecidos em encarnações anteriores, desestabilizam o corpo mental sem que a consciência se de conta disso (é o caso da Beverly, aquela moça que em seus sonhos se via jogada dentro de uma fogueira onde morria). Desse modo, ela se desenvolve lentamente, inicialmente no corpo mental sob a pressão de um fator estressante, como uma grande frustração (desilusão ou desprazer por não conseguir que as expectativas se realizem, em outras palavras, conseguir ter ou manter algo para o qual havia se gasto muito esforço), ou uma dor afetiva fruto do ambiente onde o indivíduo vive, para depois eclodir no corpo físico.
Esta manifestação se estrutura substancialmente em quatro fases: no inicio há um mal-estar psicológico, depois um bloqueio funcional seguido por uma alteração celular que finalmente se transforma em uma lesão anatômica.
Nestes casos, tratar o corpo físico é cuidar do efeito, não da causa, porque esta reside na psique.
Os distúrbios psicossomáticos mais freqüentes, e os mais claramente vinculados com a “vida psicológica” do indivíduo, são aqueles do aparelho digestivo, do aparelho cardiocirculatório e aparelho sexual.
Considerando o rol primário que o aparelho digestivo desenvolve nas varias fases do desenvolvimento do ser humano (relação mãe-filho através da função nutritiva), fica claro que pode ser responsabilizado por uma série notável de significados de natureza biológica, psicológica e social, e como cada um destes significados possa de uma forma ou de outra interagir na gênese dos distúrbios de origem psicossomática do aparelho digestivo. Estes distúrbios, efetivamente, sinalizam a seu modo as nossas dificuldades de assimilar os elementos evolutivos da vida (idéias novas, mudanças radicais etc.), por exemplo.
Através do estômago, o homem pode exprimir as problemáticas que não foram “digeridas” como, por exemplo, idéias ou situações que contrariam interesses, julgadas injustas e que por isso fazem mal (má digestão, estomago inchado, espasmo muscular etc.), ou então que deixam o indivíduo enfurecido (queimação). No vomito, ainda, é simbolizada a rejeição a uma situação difícil, para muito intolerável, como é o caso de alguns estudantes que antes ou durantes os exames sofrem deste mal, para depois, superada esta fase, desaparecer por completo.
A dor pode estar falando de uma luta interior, isto é, por um lado há a tendência de ir adiante, ou seja, de agir, e do outro, ao invés disso, existe uma resistência interior contraposta muito forte que torna ineficaz a nossa forma agressiva de ser. Desse modo, ao reter dentro de nos o que desejávamos exprimir, muitas vezes somos tomados por uma intensa sensação de aflição, raiva ou revolta ao perceber que nos sentimos incapacitados de executar aquilo que desejávamos.
O conteúdo simbólico da colite, aparentemente é ainda mais significativo: a diarréia representa a necessidade de nos libertarmos de “algo” inaceitável, que não conseguimos nem conter e muito menos assimilar. Esta liberação intestinal encontra sua correspondência, ao nível mental, quando tenta eliminar um conteúdo não confortável, ou seja, com o qual não se consegue coexistir (pensamentos, idéias, emoções, fantasias, ciúmes etc.etc.).
Os fatores psicológicos, neste desconforto, jogam um rol fundamental na transformação deste órgão digestível que por natureza é muito irritável. Pesquisas conduzidas sobre um universo deste biótipo de sujeitos, evidenciaram que raramente há situações mais estressantes do que o normal. De tal modo, a responsabilidade deste mal recai na sensibilidade de cada indivíduo, em outras palavras, na sua reação diante das comuns condições estressantes do dia-a-dia, porque no seu parecer muitas delas são exageradas ou inaceitáveis.
O caráter introvertido da maior parte destas pessoas, faz com que os pacientes deste “desconforto” descarreguem suas tensões e seu mal-estar emotivo ao nível intestinal. Este órgão aparece assim na sua dimensão de mal-estar psicossomático, quer dizer, de enfermidade, porque esta parte do organismo se torna objeto de descarga dos fatores psíquicos.
As causas desta reação, como já evidenciado, devem ser procuradas na primeira infância quando as funções intestinais constituíam também um meio de comunicação com seus genitores e respectivo meio-ambiente. Não devemos esquecer que são estes contatos relacionais com seus procedimentos, modo de pensar, estilo de vida, de se relacionar socialmente e com o mundo, a fornecer as premissas da psicomatização, incluindo os padrões emotivos que estarão por trás da personalidade.
Sim, por não fugirem a regra, a personalidade dos pais pode ser caracterizada por meticulosidades desnecessárias, manias de qualquer natureza até obsessivas, desordens afetivas ora de tipo ansioso ou com tratos depressivos, colapsos existenciais com crises de choro, cansaço e irritação devido a insônia, palpitações, vertigens e em alguns casos até a tendência ao suicídio, todos sintomas dos estados de ansiedade.
Há, além disso, aspectos de fobias exageradas a respeito da morte, a enfermidades consideradas perigosas como o câncer. Desse modo, a ansiedade e a depressão, agindo por meio do sistema nervoso central e o vegetativo, golpeiam este órgão lá onde é coligado com estes sistemas, ou seja, ao nível da musculatura de suas paredes, logo de todos seus movimentos. Desta forma, o intestino responde a situações de stress ou de ansiedade contraindo-se. Assim sendo, as dores abdominais, a flatulência e a própria diarréia que muitos indivíduos experimentam sob tensão, são um exemplo banal, mas significativo, da reação do intestino aos eventos estressantes.
Esta resposta exagerada um sem número de vezes é retardada no tempo ou acontece de forma contínua, dificultando, assim, a identificação do elo entre os sintomas somáticos e as situações estressantes. Outras vezes, a pessoa é tão avessa a admitir a existência de um problema que se cala, ou então, simplesmente, conscientemente não se da conta dele.
Enquanto isso, as enfermidades no aparato cardíaco-circulatório estão sempre interligadas a distúrbios da esfera intelectiva ou emotiva, porque o coração está sempre conectado com as situações emocionais. A prova disso são aqueles indivíduos chamados “sem coração” porque normalmente este predicado é atribuído aos que são frios, isto é, que não sofrem em termos emocionais. Uma das mais freqüentes somatizações é o enfarte, considerando que a problemática do enfartado via de regra está relacionada com a moralidade e a auto-afirmação.
A criatura sujeita ao enfarte, assim como a sujeita à hipertensão, normalmente é aquela que mantém um comportamento severo em todas as circunstâncias, responsável além da conta lógica, e por assim ser, dificilmente se distrai.
A “problemática” cardíaca é a enfermidade psicossomática por excelência, que pode ser funcional ou orgânica. Os sintomas recordam os da angina pectoris e surgem, ao contrário desta, sem aparentes motivos determinantes: não é o stress que determina o ataque cardíaco, mas um estímulo de natureza imprevisível que pode envolver também outras funções orgânicas.
Às vezes, esta afecção está por detrás de um trauma não ou mal resolvido ou oculto atrás do medo de enfrentar a vida ou da morte, mas sempre em conexão a uma carente realização da própria personalidade “eu” interior e a uma ausência inconsciente do real significado da vida.
Os problemas do coração, deste modo, sempre estão conectados aos esforços que despendemos para conseguir viver no interior daquela aureola de felicidade cuja interpretação jamais é similar a mais de um ou dois indivíduos.
Se pensarmos, por exemplo, que para sermos virtuosos temos que trabalhar continuamente sem nos concedermos um minuto sequer para lamentações ou lazer é provável que estejamos exigindo do coração não só um esforço excessivo, mas um esgotamento às vezes até irreversível. Além, disso, sem duvidas, as emoções comprometem seu bom desempenho, porque todas as vezes que vivenciamos uma criamos um bloqueio no plexo solar, bloqueio que trava exatamente aquela energia da qual nosso organismo depende para viver. É nesse momento que o coração começa a nos ajudar bombeando mais fortemente o sangue para fazer circular mais “energia”.
Podemos tranqüilamente verificar este fenômeno quando sentimos medo ou temos receio de enfrentar alguma coisa, porque neste momento a energia é bloqueada e o coração, para enfrentar esta carência, aumenta os batimentos cardíacos exigindo que a respiração seja muito mais rápida. Quando a emoção é demasiadamente intensa, pode haver perda dos sentidos o que indica que por alguns instantes o cérebro foi privado desta energia.
As palpitações, taquicardias e outros problemas cardíacos, revelam indubitavelmente a fadiga de gerenciar os estados emotivos ou, ao contrário, de lhe oferecer a possibilidade de se exprimir, de fazê-los viver.
Sim, às vezes, ao invés de estabelecer um ponto de equilíbrio, tomamos “demasiadamente” a serio a vida e tudo aquilo que acontece ao longo dela, e quando isso acontece, a ausência de prazer naquilo que se faz ou se sente e os poucos espaços destinados à liberdade ou relaxamento, enfraquecem as energias do coração que, em alguns casos, se transformam em tensões cardíacas.
Por outro lado, igualmente o excesso de prazeres, com ênfase os que advêm dos vícios - sem excluir os alimentares, além das paixões impulsivas, são fatores que enfraquecem as energias deste órgão e produzem os mesmos efeitos. Resumindo, todas as emoções, seja de medo, angústia, arrependimento devido a uma sensação de culpa, cólera e até uma felicidade excessiva podem golpear o coração. Enquanto isso, a paz, a tranqüilidade, a serenidade e a satisfação de viver (entusiasmo) independentemente das condições sociais e financeiras que são desfrutadas, garantem ao coração um excelente estado de saúde.
Um outro gênero muito difundido de enfermidades psicossomáticas é constituído pelos distúrbios ao nível do aparato sexual, comumente evidenciados de modo diverso no homem e na mulher, porque desigualmente motivadas.
Existem, de fato, motivações culturais que pertencem somente à educação por estarem interligadas a uma sexualidade vivida em termos de exceção, vez que pode ter sido repressiva ou de culpabilidade. Enquanto que a sexualidade da mulher, com seus mitos como a virgindade (fenômeno cultural em fase de extinção, mas que mantém seu peso em alguns ambientes sociais) pode provocar nela uma modificação e muitas vezes uma alteração, não somente na sexualidade ao nível da sua natural expressão, mas também na conceituação de viver no que diz respeito a parte afetiva mental e sua conexões. A estes aspectos se somam os comportamentos femininos ou masculinos pré-constituidos pela cultura corrente, nos quais ainda hoje persiste o credo que a mulher é um ser “inferior” e mais frágil.
Este prejuízo comporta uma problemática desde o momento da “identificação”, que é aquele em que a criança é levada a imitar o genitor do mesmo sexo para que não incorra em alterações comportamentais. Neste período, uma menina pode se negar a identificar-se com a mãe, se nela percebe uma posição de inferioridade, podendo preferenciar, neste caso, a identificação com o pai por motivos de equilíbrio psicológico ou até patológico, porque entende que se refletindo no pai pode viver uma posição privilegiada.
Entre os distúrbios psicossomáticos, a frigidez e o vaginismo representam simbolicamente a negação do rol de mulher e a dissimulação de uma represada agressividade contra o homem. Enquanto isso, os distúrbios menstruais e a menopausa precoce se deparam, preferencialmente, em mulheres com personalidade hipermoralista e condicionadas pelo rotulo que as instigam a uma existência dedicada à maternidade e a procriação. Estas premissas psicológicas podem inibir a secreção hormonal e abrir espaço para somatizações.
Os distúrbios ligados ao aparato sexual masculino são aqueles relativos à impotência, que vão da impotência parcial ou da ejaculação precoce ou retardada, até a impotência total devido à impossibilidade de ereção. Estas anomalias funcionais são coligadas a problemáticas instintuais ou afetivas.
No primeiro caso pode existir um problema de carência de auto-afirmação, e, assim sendo, de um complexo de inferioridade que leva o homem a ser inseguro de suas prestações (falta de estima). No segundo pode existir um problema de natureza afetiva comumente interligada as figuras genitoriais.
Se a criança, em relação ao genitor do sexo oposto, se percebe rejeitado ou não bem aceito pode inconscientemente se sentir culpado, ou ao contrário cultivar sentimentos inconscientes de ódio em relação a mãe, que como adulto, sempre inconscientemente, restabelecerá com as mulheres. As dificuldades na relação sexual, a este ponto, nada mais é do que a expressão das suas dificuldades afetivas.
Problemáticas afins são geradas também através de um relacionamento com mães autoritárias ou hiperprotetivas que se opõem ao natural afastamento do filho e a manifestação da sua energia sexual na filha mulher.
Na ejaculação precoce, há uma ralação bem clara com a vida afetiva e instintual, enquanto a brevidade da relação sexual representa simbolicamente a medo de não conseguir finalizar o ato, evidenciando, de tal modo, insegurança em relação à mulher além de outra problemática enlaçada a auto-afirmação como homem.
Na ejaculação retardada existe o mesmo relacionamento, mas ligado a conteúdos diversos. Neste indivíduo habitualmente está presente um forte receio de “perder” uma parte de si mesmo ou de dar a mulher, se ela viveu com figuração negativa (autoritária), a mesma parte de si mesmo que inconscientemente vive como se estivesse em perigo.
Ultimamente, este elenco de enfermidades psicossomáticas (para algumas escolas de orientação psicossomática) pouco a pouco aumentou até englobar anomalias funcionais os distúrbios da alimentação (anorexia e bulimia), os sintomas do sistema respiratório (asma, bronquite, hiperventilação e dispnéia), os sintomas cutâneos (eritema, acne, dermatite atípica, psoríase, hiperidrose e sudoração), os sintomas de responsabilidade do sistema musculosquelétrico (cefaléia tensiva, torcicolo, dorsalgia e artrite), os sintomas do sistema geniturinário (dores menstruais, enurese e impotência), os sintomas do sistema endócrino (diabete mellito, hipo ou hepertiroidismo) etc.etc.
Estas conceituações, entretanto, mesmo se refletem a essência do credo de escolas de medicina de orientação psicossomática, isto é, que discordam em número, gênero e grau da visão mecanicista, a que tem como certo que o animal, por ser estruturado como uma máquina, deve ser aberto (cirurgia) para nele e tão somente nele encontrar a causa dos males que o afligem, e assim curá-los (extrações, transplantes de órgãos etc.etc.), prossegue mantendo-se muito aquém das verdades que elucidam, com total segurança porque comprováveis, outros fenômenos como, por exemplo, o do membro que, apesar de ter sido amputado, não somente continua sendo percebido pelo paciente, como, quando não consegue se conter urra por causa das dores alucinantes que nele sente.
Entretanto, no momento oportuno, o leitor será colocado diante daquelas que são as verdades eternas, e que assim permanecerão mesmo se a humanidade, em seu incessante esforço para “TER” em detrimento de “SER”, prossegue se afastando cada vez mais delas.

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